quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O INÍCIO DE TUDO: PROCESSO DE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SERIDÓ

O portal  de São José agora tem mais um parceiro que semanalmente escreverá artigos sobre a história do nosso municipio. Seu povo, sua história,figuras históricas, fatos históricos, fíguras folclóricas e no limiar da nossa história  contando fatos do passado e também fatos presentes.

Teremos semanalmente os artigos  do jovem Melkides Medeiros e de outros parceiros que em breve divulgaremos.


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Localizado na Microrregião do Seridó Ocidental, São José do Seridó é um município do Estado do Rio Grande do Norte e tem sua evolução histórica bastante ligada ao campo, assim como diversos municípios desta mesma região. Essa característica campestre ainda se faz bastante presente até os dias atuais no cotidiano, na economia e nos costumes populares, denunciando uma vida sertaneja intimamente ligada á terra. 

Os territórios que formam o atual município foram certamente habitados por indígenas no passado antes da chegada do colonizador, porém não se pode confirmar esta afirmativa, tendo em vista a falta de documentação comprobatória. De fato sua evolução histórica se inicia com a chegada de Nicolau Mendes da Cruz a esta região com a concessão da Sesmaria 406 por volta do ano de 1752, o crioulo alforriado teria, provavelmente, se afixado nestas terras tendo em vista a sua fertilidade e a vantagem de serem banhadas pelo Rio São José, Seridó e Acauã[1]. O desenvolvimento da atividade pecuarista, comum no interior da então capitania, foi a primeira atividade econômica conhecida nesta região e atraiu ainda mais pessoas ao lugar, principalmente portugueses e descendentes. Depois de Nicolau, essas terras passaram a pertencer a Januário de Medeiros Dantas que perdendo o interesse pelas posses, as revendeu para o seu irmão Manoel Inocêncio de Medeiros Dantas, isso já no ano de 1854. Manoel e sua esposa Joaquina Geraldina de Medeiros, ao contrair núpcias geraram nove filhos, entre eles Joaquim Manoel do Nascimento, conhecido pela tradição oral como Joaquim Loló, um dos protagonistas da fundação da vila que deu origem ao atual município[2].

O gesto patriótico de Joaquim Loló, ao doar o equivalente a doze braças[3] de terras para a construção da vila o tornou bastante conhecido na região do Seridó e seu gesto foi repetido por outros moradores do lugar. Outras famílias e donos de terras fizeram suas concessões em favor da fundação da conhecida Vila de São José, que em 1917 recebeu o nome de São José da Bonita, quando o então presidente da Intendência Municipal de Jardim do Seridó Sr. Heráclito Pires reconheceu a intenção dos moradores da localidade, registrando em cartório a existência da vila e submetendo-a politica, administrativa e judicialmente ao seu domínio. A primeira missa foi celebrada, sob uma espécie latada, que mais tarde se transformou no mercado Público e logo depois aconteceu a primeira feira que contou com a presença de muitos homens e famílias da região. Com o reconhecimento oficial a vila começa a desenvolver-se, é construída a Igreja e nomeado o padroeiro, São José, em homenagem ao rio que corta a localidade, isso em 1918. Segundo Edite Medeiros a religiosidade e a devoção dessas pessoas fez crescer um sentimento de pertencimento á localidade e logo diversos recursos materiais chegaram ao pequeno povoado.

O desenvolvimento do povoado ganhara força após a construção da Igreja e o erguimento do mercado público, a fé e o comércio, além da posição estratégica da localidade, entre as maiores cidades da região, Caicó e Currais Novos, permitiu que a população aumentasse a cada ano. A figura dos tropeiros, vaqueiros e comerciantes viajantes tem sua importância para além da historiografia, ora, assim como outras cidades da região do Seridó, São José tem a sua fundação ligada a uma lenda que até os dias atuais permanece na literatura popular e se faz presente no cotidiano, na mentalidade e na cultura do município, estamos nos referindo á lenda do “Poço da Bonita”, para alguns somente um mito, para as pessoas mais velhas uma verdade contada de diferentes jeitos, com variações de fatos e diferentes personagens. A lenda do “Poço da Bonita”, que gerou uma espécie de apelido para o município, conhecido na região desde a sua fundação, como “São José da Bonita”, tem na sua centralidade a figura feminina representada por uma bela jovem banhando-se num poço que ao ser surpreendida pela presença de tropeiros forasteiros, some nas águas do mesmo, não aparecendo nunca mais. O poço existe de verdade, mas, a moça e o vaqueiro nas suas mais variadas fisionomias e performances não passam da dizibilidade e do imaginário popular. 

É envolvida em todo esse contexto histórico-literário que se desenvolveu a povoação da “Bonita” estreitamente limitada pela dependência administrativa e política do município de Jardim do Seridó. Os representantes do povoado pagavam impostos e dependiam dos serviços públicos do município vizinho, o que dificultava bastante o bem estar dessas pessoas, pois tinham que se deslocar para Jardim e, além disso, sofriam com a desatenção da administração municipal jardim-seridoense. 

Em 1963, quando a povoação de fato já havia crescido consideravelmente e já mostrava sinais de descontentamento com a falta de atenção da administração municipal de Jardim do Seridó, homens de conhecimento político[4] e interessados pela emancipação do lugar conseguiram através de requerimentos aprovados pela Câmara Municipal de Jardim do Seridó que o povoado passasse a categoria de município. O então governador Aluísio Alves em 1962 decretou que estava criado o município de São José do Seridó, desmembrando-se de Jardim do Seridó, tendo sua instalação oficial no dia 07 de Abril do ano seguinte[5]

De fato, a fé, o comércio, o trabalho, as relações interpessoais das pessoas que viveram na povoação da Bonita desde a sua fundação e muitos outros fatores foram fundamentais para o desenvolvimento da comunidade, porém, a cotonicultura representou, sem dúvidas, o principal deles, tendo em vista o potencial produtor das terras férteis bonitenses, o envolvimento dos moradores como mão-de-obra para o cultivo do algodão e outros fatores de ordem regional e até mundial que permitiram a produção do algodão em larga escala e garantiu o sustento de muitas famílias São José-seridoenses até pouco tempo atrás.



[1] Sobre essa temática ver também MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. Nicolau Mendes da Cruz: trajetória de um crioulo forro no Sertão do Seridó – século XVIII. Natal: 2010. 8p. Texto apresentado na mesa-redonda Identidades coloniais no Brasil, dentro do IV Encontro Estadual da ANPUH-RN, realizado em Natal, de 16 a 20 de agosto de 2010.
[2] Sobre essa temática ver também MEDEIROS. Edite. (1998, p. 5-7)
[3]  Antigo sistema de medida baseado no corpo humano, assim como: palmo, pé, polegada e côvado. Este sistema de medida hoje é considerado impreciso.
[4]  Que tinham influência política, por exemplo, João Raimundo Pereira e José Cirilo Alves.
[5]  RIO GRANDE DO NORTE. Lei n. 2793, de 11 de maio de 1962. Cria o município de São José do Seridó, desmembrando do de Jardim do Seridó. Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, ano LXXI, n. 89, p.03, 12 de maio de 1962. (Acervo d’A República).

AUTOR: JOSÉ MELQUIDES DE MEDEIROS

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