Teremos semanalmente os artigos do jovem Melkides Medeiros e de outros parceiros que em breve divulgaremos.
Localizado na Microrregião
do Seridó Ocidental, São José do Seridó é um município do Estado do Rio Grande
do Norte e tem sua evolução histórica bastante ligada ao campo, assim como
diversos municípios desta mesma região. Essa característica campestre ainda se
faz bastante presente até os dias atuais no cotidiano, na economia e nos
costumes populares, denunciando uma vida sertaneja intimamente ligada á terra.
Os territórios que formam o
atual município foram certamente habitados por indígenas no passado antes da
chegada do colonizador, porém não se pode confirmar esta afirmativa, tendo em
vista a falta de documentação comprobatória. De fato sua evolução histórica se
inicia com a chegada de Nicolau Mendes da Cruz a esta região com a concessão da
Sesmaria 406 por volta do ano de 1752, o crioulo alforriado teria,
provavelmente, se afixado nestas terras tendo em vista a sua fertilidade e a
vantagem de serem banhadas pelo Rio São José, Seridó e Acauã[1]. O desenvolvimento da
atividade pecuarista, comum no interior da então capitania, foi a primeira
atividade econômica conhecida nesta região e atraiu ainda mais pessoas ao
lugar, principalmente portugueses e descendentes. Depois de Nicolau, essas
terras passaram a pertencer a Januário de Medeiros Dantas que perdendo o
interesse pelas posses, as revendeu para o seu irmão Manoel Inocêncio de
Medeiros Dantas, isso já no ano de 1854. Manoel e sua esposa Joaquina Geraldina
de Medeiros, ao contrair núpcias geraram nove filhos, entre eles Joaquim Manoel
do Nascimento, conhecido pela tradição oral como Joaquim Loló, um dos
protagonistas da fundação da vila que deu origem ao atual município[2].
O gesto patriótico de Joaquim Loló, ao doar o equivalente
a doze braças[3] de terras para a
construção da vila o tornou bastante conhecido na região do Seridó e seu gesto
foi repetido por outros moradores do lugar. Outras famílias e donos de terras
fizeram suas concessões em favor da fundação da conhecida Vila de São José, que
em 1917 recebeu o nome de São José da Bonita, quando o então presidente da
Intendência Municipal de Jardim do Seridó Sr. Heráclito Pires reconheceu a
intenção dos moradores da localidade, registrando em cartório a existência da
vila e submetendo-a politica, administrativa e judicialmente ao seu domínio. A
primeira missa foi celebrada, sob uma espécie latada, que mais tarde se
transformou no mercado Público e logo depois aconteceu a primeira feira que
contou com a presença de muitos homens e famílias da região. Com o
reconhecimento oficial a vila começa a desenvolver-se, é construída a Igreja e
nomeado o padroeiro, São José, em homenagem ao rio que corta a localidade, isso
em 1918. Segundo Edite Medeiros a religiosidade e a devoção dessas pessoas fez
crescer um sentimento de pertencimento á localidade e logo diversos recursos
materiais chegaram ao pequeno povoado.
O desenvolvimento do povoado
ganhara força após a construção da Igreja e o erguimento do mercado público, a
fé e o comércio, além da posição estratégica da localidade, entre as maiores
cidades da região, Caicó e Currais Novos, permitiu que a população aumentasse a
cada ano. A figura dos tropeiros, vaqueiros e comerciantes viajantes tem sua
importância para além da historiografia, ora, assim como outras cidades da
região do Seridó, São José tem a sua fundação ligada a uma lenda que até os
dias atuais permanece na literatura popular e se faz presente no cotidiano, na
mentalidade e na cultura do município, estamos nos referindo á lenda do “Poço
da Bonita”, para alguns somente um mito, para as pessoas mais velhas uma
verdade contada de diferentes jeitos, com variações de fatos e diferentes
personagens. A lenda do “Poço da Bonita”, que gerou uma espécie de apelido para
o município, conhecido na região desde a sua fundação, como “São José da
Bonita”, tem na sua centralidade a figura feminina representada por uma bela
jovem banhando-se num poço que ao ser surpreendida pela presença de tropeiros
forasteiros, some nas águas do mesmo, não aparecendo nunca mais. O poço existe
de verdade, mas, a moça e o vaqueiro nas suas mais variadas fisionomias e
performances não passam da dizibilidade e do imaginário popular.
É envolvida em todo esse
contexto histórico-literário que se desenvolveu a povoação da “Bonita”
estreitamente limitada pela dependência administrativa e política do município
de Jardim do Seridó. Os representantes do povoado pagavam impostos e dependiam
dos serviços públicos do município vizinho, o que dificultava bastante o bem
estar dessas pessoas, pois tinham que se deslocar para Jardim e, além disso,
sofriam com a desatenção da administração municipal jardim-seridoense.
Em 1963, quando a povoação
de fato já havia crescido consideravelmente e já mostrava sinais de
descontentamento com a falta de atenção da administração municipal de Jardim do
Seridó, homens de conhecimento político[4] e interessados pela
emancipação do lugar conseguiram através de requerimentos aprovados pela Câmara
Municipal de Jardim do Seridó que o povoado passasse a categoria de município.
O então governador Aluísio Alves em 1962 decretou que estava criado o município
de São José do Seridó, desmembrando-se de Jardim do Seridó, tendo sua
instalação oficial no dia 07 de Abril do ano seguinte[5].
De fato, a fé, o comércio, o
trabalho, as relações interpessoais das pessoas que viveram na povoação da
Bonita desde a sua fundação e muitos outros fatores foram fundamentais para o
desenvolvimento da comunidade, porém, a cotonicultura representou, sem dúvidas,
o principal deles, tendo em vista o potencial produtor das terras férteis
bonitenses, o envolvimento dos moradores como mão-de-obra para o cultivo do
algodão e outros fatores de ordem regional e até mundial que permitiram a
produção do algodão em larga escala e garantiu o sustento de muitas famílias São
José-seridoenses até pouco tempo atrás.
[1] Sobre essa temática ver também
MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. Nicolau Mendes da Cruz: trajetória
de um crioulo forro no Sertão do Seridó – século XVIII. Natal: 2010. 8p. Texto
apresentado na mesa-redonda Identidades coloniais no Brasil, dentro do IV
Encontro Estadual da ANPUH-RN, realizado em Natal, de 16 a 20 de agosto de
2010.
[2] Sobre essa temática ver também
MEDEIROS. Edite. (1998, p. 5-7)
[3]
Antigo sistema de medida baseado no corpo humano, assim como: palmo, pé,
polegada e côvado. Este sistema de medida hoje é considerado impreciso.
[4]
Que tinham influência política, por exemplo, João Raimundo Pereira e
José Cirilo Alves.
[5]
RIO GRANDE DO NORTE. Lei n. 2793, de 11 de maio de 1962. Cria o
município de São José do Seridó, desmembrando do de Jardim do Seridó. Diário
Oficial do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, ano LXXI, n. 89, p.03, 12 de
maio de 1962. (Acervo d’A República).
AUTOR: JOSÉ MELQUIDES DE MEDEIROS
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