Em sua primeira mensagem de Páscoa, para 250 mil reunidos na Praça de São Pedro, Pontífice orou pelo fim da violência. Quebra de vários protocolos pode ser sinal de uma Igreja Católica a caminho de mudanças.
O papa Francisco pediu paz em todo o mundo e um novo espírito de conciliação em sua primeira mensagem de Páscoa neste domingo (30/03), no Vaticano. A violência no Oriente Médio, Síria e África foram temas-chave de sua benção Urbi et orbi (Para a cidade e o mundo).
Falando para cerca de 250 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro, ele orou para que "todo ato de violência possa acabar", chamando a atenção para o conflito entre israelenses e palestinos, que vem acontecendo "há muito tempo".
O pontífice argentino também enfatizou seu apelo pela paz na Síria, onde a guerra civil entrou no terceiro ano. "Acima de tudo, para a querida Síria", disse. "Para seu povo, dilacerado por conflitos, para os muitos refugiados que precisam de ajuda e de conforto. Quanto sangue derramado e quanta dor se terá que causar, antes de conseguir encontrar uma solução política para a crise?"
O ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio chamou a atenção para outros focos de conflito em todo o mundo, como o Mali, a Nigéria e a República Centro-Africana. Na Ásia, colocou ênfase especial na península coreana e pediu que Pyongyang evite "erros de cálculo" que possam levar a uma escalada de violência.
Aos 76 anos de idade, o religioso abordou questões globais, em especial o "amplo e generalizado" problema do tráfico de seres humanos, o narcotráfico e a "exploração injusta dos recursos naturais". Antes de ler a mensagem, Francisco celebrara a primeira missa solene do Domingo de Pascoa de seu pontificado, saudando um a um os cardeais presentes. Ele também percorreu o Vaticano no papamóvel.
Quebra de protocolos
O novo líder da Igreja Católica já se tornou conhecido por estabelecer um tom de humildade e simplicidade em suas aparições públicas. Na vigília de Páscoa, neste sábado, ele pediu aos não crentes e aos católicos não praticantes que deem um "passo em frente" em direção a Deus.
O novo pontífice já rompera com a tradição na Quinta-Feira Santa, ao lavar os pés de internos de uma prisão juvenil próxima de Roma – honra normalmente reservada aos cardeais – e ao incluir mulheres e muçulmanos na celebração da cerimônia.
Jorge Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires ao ser eleito para chefiar a Igreja Católica, em 13 de março de 2013, substituindo o alemão Bento 16. Além de ser o primeiro papa das Américas, Francisco é também o primeiro de fora da Europa em cerca de 1.300 anos.
Reformas à vista?
Antes mesmo de ser escolhido como pontífice, Bergoglio criticava a Igreja Católica por ter esquecido de praticar o Evangelho e por correr o perigo de só se ocupar de si mesma, num círculo vicioso. Com suas ações e palavras até o momento, o Papa mostra possíveis sinais de mudanças na Igreja Católica.
Desde 2012, a instituição comemora o Concílio Vaticano 2º (1962-1965), encontro em que a Igreja tentou se reconciliar com o mundo moderno. O Papa, na época, era João 23. No evento, todos os bispos católicos do mundo deviam debater dúvidas sobre a fé nos tempos modernos e propor mudanças a serem implementadas pela instituição.
Num total de 16 documentos, o Concílio tentou abordar as perguntas do tempo, e realizou reformas eclesiásticas abrangentes. As primeiras palavras do documento Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje, mostram bem a forma de expressão que impressionou a tantos, na época. Com o documento, os bispos formulavam uma proximidade do ser humano, que desde então tornou-se, para a Igreja, obrigação e parâmetro jamais alcançado:
"Alegria e esperança, tristeza e medo das pessoas de hoje, especialmente dos pobres e oprimidos de todos os tipos, são também a alegria e esperança, tristeza e o medo dos apóstolos de Cristo. E não há nada de verdadeiramente humano que não encontre repercussão em seus corações..."
Agora resta esperar as futuras posições do papa Francisco. Por um lado, ele tem experiência com a pobreza, com a exclusão e injustiças sociais. Por outro lado, não parece sequer levar em consideração reformas na área da teologia moral ou da disciplina eclesiástica – um fato a que seus ouvintes europeus terão que se acostumar.
FC/dw/dpa/kna/epd/lusa
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