domingo, 10 de fevereiro de 2013

Bloco do Magão agita Caicó neste domingo de carnaval

Ao som de muito frevo e marchinhas tradicionais, o bloco do Magão vai reunir mais uma vez, uma multidão de foliões neste domingo de carnaval em Caicó. 


Conheça mais sobre o Bloco do Magão com informações de David Fernandes Barros (Curso de História da UFRN) 
 
Em 1990, um grupo de amigos decidiu se reunir e criar um bloco, tendo como dirigente e principal idealizador Ronaldo Batista de Sales, o popularmente conhecido “Magão”. O bloco “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” surge então com a finalidade de chamar a atenção da sociedade para o Poço de Sant’Ana lugar místico de várias histórias e lendas da cidade, que sofria com o esquecimento e com a poluição e o resgate do carnaval de rua caicoense que estava morrendo, além de tentar encontrar “uma forma de sustentabilidade para manter a família”  segundo “Magão”.
Em seu início, o bloco era formado por pessoas totalmente discriminadas pela sociedade, por terem problemas com o álcool e drogas. Como um carpinteiro (Magão) e um bando de drogados queriam resgatar o carnaval de rua de Caicó e o Poço Místico da cidade? O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” vai se inspirar nos seus antecessores,  mantendo todos os elementos e também inovando. Embora não tenham recebido ajuda dos blocos existentes, como o “Ala Ursa da Paraíba” que não compartilharam de seus conhecimentos carnavalescos. 

O “Magão” e seus amigos, mesmo sem o conhecimento necessário começaram a confeccionar as próprias fantasias, e inovaram com os bonecos gigantes de papel machê, inéditos no carnaval caicoense. Segundo o Magão, “embora houvesse poucas pessoas nos arrastões, os bonecos davam uma outra dimensão ao bloco, dando a impressão de que haviam mais pessoas”.

O bloco se organizava, de acordo, com a disponibilidade dos participantes, que se trajavam de “burrinhas de padre” e papangus. Também tinha o urso e os grandes bonecos que chamavam a atenção do público por onde passavam. No começo não havia horário certo para o desfile do bloco, que poderia ser de manha, tarde, noite e até de madrugada durante os dias de carnaval. Muitas vezes o bloco foi tirado das ruas e oprimido pela polícia local, sendo impedido de realizar os arrastões.
Mesmo enfrentando o preconceito e o desdenho da sociedade, o bloco continuou nas ruas conseguindo aglomerar mais pessoas a cada ano e ganhando notoriedade na cidade. Em 1993 despertaram o interesse dos comerciantes da cidade, que resolveram apoiar o bloco em troca de estamparem propagandas de suas lojas nos bonecos gigantes. Com o pequeno crescimento foi implantada uma orquestra que contava apenas com três músicos, os quais criaram o hino do bloco. Com o despertar das pessoas para a festividade, o bloco ano após ano foi ganhando novas dimensões e crescendo cada vez mais.

Desde então, o bloco não parou mais de crescer, e passou a ganhar vários setores da sociedade, conseguindo democratizar aos poucos o carnaval caicoense e a quebrar o preconceito existente desde o início do século XX. O “Ala Ursa” possibilitou a descaracterização dos antigos carnavais caicoenses marcados pela imensa estratificação social e o puro preconceito racial e social. No final dos anos 90, o bloco começou a abrir o carnaval, e se tornou o marco e o referencial das festividades carnavalescas de Caicó, arrastando multidões por toda cidade.

O povo caicoense e de todo o Seridó têm como características peculiares, a alegria, a hospitalidade, segurança, ótima gastronomia, e principalmente em relação a festividades, um caráter festivo disseminado em toda a sociedade. O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” conseguiu passar para a sociedade e os foliões de todas as partes do Brasil que o seguem, a essência do povo caicoense e seridoense, a alegria e a extroversão. Construindo assim uma identidade e um carnaval próprio encontrado somente aqui.  

Com a transmissão e disseminação da ideia de diversão, o bloco criou um carnaval sem violência onde a ordem é brincar, e todos os que participam, estão ali só pela alegria que o carnaval proporciona.

 Além da disseminação da ideia simples e pura da brincadeira e diversão. O “Bloco do Magão” tem outros pontos que o diferem dos demais blocos e que a aliada a genialidade de seu dirigente, conquistam e contagiam toda a massa. Ao quais tentarei enumerá-los a seguir.

O bloco reviveu as antigas marchinhas de carnavais, que são tocadas em forma de frevo frenético e cantadas de forma praticamente gritada. Aliando esses dois elementos a uma forma peculiar de interpretar as antigas marchinhas, o bloco desenvolveu dentro da construção de sua identidade, uma forma ímpar de animação carnavalesca, onde a orquestra desenvolve um ritmo frenético que sincronizado com a música, contagia toda a massa não deixando ninguém parado.

Outro ponto e talvez o maior diferencial do bloco, é que desde a sua fundação, a população sempre esteve em contato direto com todos os elementos do bloco, não havendo limites para participação da população, possibilitando uma liberdade e interação das pessoas, possibilitando assim um dos objetivos do carnaval de rua. Fazendo assim com que, todos os foliões sejam o bloco e o bloco seja todos. Fazendo desaparecer as classes sociais, as etnias e as diferenças, promovendo a igualdade democrática durante os arrastões pelas ruas da cidade. Objetivo pelo qual o bloco foi criado a décadas, nos anos 30.

A divulgação do “Bloco do Magão” é outro ponto a ser elencado. Tornou-se prática comum dos caicoenses, apresentarem e introduzirem os filhos, ou seja, as novas gerações nos festejos carnavalescos através do “Ala Ursa”, fazendo com que a tradição do carnaval de rua seja transmitida de geração em geração. 

Dessa forma a tradição do carnaval de rua do “Ala Ursa” é mantida pelos jovens, que por sua vez, divulgam os festejos do bloco carnavalesco e a cidade, por todas as partes do país, quando saem de sua cidade, na maioria dos casos para estudar, através do “boca a boca”, incitando e atraindo amigos e conhecidos, que ao conhecer a cidade e o festejo, também passam a propagar o carnaval caicoense. Fazendo dessa forma, a propaganda das festividades carnavalescas e da cidade, que ganharam proporções regionais, e hoje nacionais. Segundo o “Magão”, “os jovens universitários, foram os grandes responsáveis ou os maiores contribuintes, para a repercussão do ‘Bloco do Magão’, no cenário regional e nacional”.

Pontos importantes também a serem destacados, é o imenso respeito e popularidade do carnavalesco “Magão”, que o possibilita administrar eventuais problemas e desafios, com apoio de toda sociedade, além de conseguir manter o objetivo principal do bloco que é promover a alegria e a igualdade das pessoas. Entre os desafios vencidos pelo bloco, foi padronização da hora da saída do bloco, que foi de fundamental importância para o sucesso do bloco, que enfrentou muitos problemas no início por falta de padrão nos horários de saída. 

Passando a população a se adaptar ao bloco ao invés de o bloco se adaptar a população. Aliando-se a isso também se deve o eficiente trabalho conjunto das polícias civil e militar e o corpo de bombeiros, que com o contingente de cerca de duzentos homens, mantém a ordem e segurança do carnaval caicoense, em meio a cerca de noventa mil foliões nas ruas, mantendo assim uma das marcas registrada de nossa cidade. O que antes foi uma relação de preconceito e opressão, hoje é uma relação de colaboração e união em prol da segurança e manutenção da ordem, além da diversão dos foliões.

Com todos esses atributos únicos, o “Ala Ursa” de Caicó construiu e adquiriu uma identidade própria, não encontrada em nenhuma outra parte do mundo. Com todo esse sucesso veio a responsabilidade. O que antes era uma brincadeira de amigos se tornou exemplo e referencial para todo o país. Hoje o “O Bloco do Magão” segundo o próprio dirigente, “não é mais de Caicó, nem do Seridó, mas de todo o Estado”. O bloco que no princípio arrastava algumas dezenas de pessoas, hoje arrasta uma multidão em torno de noventa mil pessoas por dia. 

O “Bloco do Poço de Sant’Ana” que veio de baixo sofreu com o preconceito e a descriminação, hoje é abraçado por toda a sociedade e inclusive pela elite, que antes o olhavam com desprezo. Mesmo assim ainda há um enorme descaso do Poder Público Local e Estadual, que não se mobiliza para melhoria da infra-estrutura, que já não é a ideal para os parâmetros atuais da festividade, e que não oferece nem mesmo o mínimo da infra-estrutura necessária, como banheiros químicos em alguns pontos chaves da cidade e do percurso do bloco.

Vencendo preconceitos, discriminações, dificuldades e o descaso do Poder Público com a cultura popular, o “O Ala Ursa do Poço de Sant’Ana”, faz há vinte anos a alegria e a brincadeira de milhares de foliões, quebrando durante o período momesco, com as diferenças sociais e raciais que existem em nossa sociedade, cumprindo assim com o papel fundamental do carnaval que é a diversão.

E é com peculiaridades, como um mudo que toca e um padre que canta na orquestra, que o “Bloco do Magão” se difere dos demais, conquistando e contagiando o público por onde passa, arrastando multidões ao som de seu hino:

Hoje eu vou pular
Hoje eu vou brincar
Só vou parar quando chegar
A Quarta – Feira
O Ala Ursa
Eu vou acompanhar
Eu só vou parar
Quando chegar a Quarta – Feira
Tem bonecos para a turma agitar
Tem as burrinhas pra crianças se alegrar
Eu quero ver toda massa
Agitando
Quero ver povão pulando
Quero ver tu balançar.
Ala Ursa Ontem, hoje e sempre porque você merece. (Divan e Dian)

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